Eu aprendi na escola que o Gutenberg deverá ter sido eventualmente a maior causa do Renascimento. Antes da invenção da imprensa, era muito fácil a um grupo de elite, na altura o clero, controlar o conhecimento, através do controlo de quem o reproduzia, os copistas. Para além do imenso analfabetismo, a reprodução de livros era extremamente trabalhosa e facilmente controlavel.
De repente surge a maravilhosa invenção, a imprensa, que permitiu uma reprodução de textos em larga escala e a preço bastante reduzido. A grande parte do custo em termos laborais dessa reprodução fora eliminada. Com isto, disparou a publicação cientifica que cada vez mais foi roubando o espaço da ignorância.
Antigamente, quem queria divulgar uma ideia, tinha relativamente fácil acesso à imprensa e, consequentemente, a muitas pessoas. Isto permitiu não só um alargamento amplo do conhecimento, como uma grande democratização do mesmo. Entretanto, deu-se um retrocesso. Os meios audio-visuais como a televisão e a rádio aumentaram muito mais ainda o alcance do conhecimento, mas eliminaram a reciprocidade do mesmo. Qualquer pessoa pode ouvir rádio e ver televisão hoje em dia, mas o acesso à transmissão de ideias através dos mesmos é altamente controlado e limitado.
Eu diria que este estado de coisas é a maior ameaça à democracia que existe actualmente. O povo não é assim tão livre. O seu raciocínio é controlado à distância, através da manipulação da informação que é veiculada através dos meios de comunicação social, efectivamente um dos poderes que se instalaram. Quem conseguir controlar a comunicação social, controla o povo. Fá-lo, ainda por cima, de forma perversa, porque ao controlar o povo através do controle do seu pensamento, deixa permanecer a ilusão de liberdade e democracia. Sim, somos votantes livres, mas seremos mesmo pensadores livres?
Entretanto, surge um novo fenómeno que me deixa cheio de esperança. Vejo a internet como o Gutenberg 2.0. A possibilidade de qualquer um poder escrever o seu próprio blog, e sobretudo a possibilidade de se poder divulgar informação de forma viral através das redes sociais, constitui um crescente contra-poder ao poder tradicionalmente detido pelos meios de comunicação tradicionais. A internet veio reestabelecer a bidireccionalidade da comunicação. Nela, deixamos de ser meros consumidores de informação centralmente controlada, mas produtores. Passámos a ter uma riqueza enorme de conhecimentos de forma totalmente livre e democrática em projectos como o Wikipedia, que são mantidos pela comunidade. Passámos a divulgar novamente e livremente as nossas ideias através dos blogs. Passámos a poder convocar manifestações de massas através do Facebook, sem a iniciativa ou intervenção dos partidos ou do poder instalado. Claro que estes colam-se a estes fenómenos, mas já não têm a exclusividade da iniciativa.
Claro que se tudo isto existisse, mas ninguém consumisse essa informação, de nada seria útil. Ao contrário daquilo que se esperava, o consumo de televisão não terá necessariamente diminuido. Esse terá sido o fenómeno, por exemplo, no Reino Unido. No entanto, a sua importância dilui-se. O número de canais disparou com o advento das transmissões digitais, reduzindo a importância de cada um individualmente, e os salvadores do meio foram sobretudo os programas de entertenimento. No entanto, enquanto as pessoas vêem a mesma, ou ainda mais, televisão, o consumo da internet também aumentou em simultâneo. Sobretudo os mais jovens consomem os dois produtos simultaneamente, muitas vezes com complementaridade, criando a tal bidireccionalidade necessária à verdadeira democratização do conhecimento.
A verdadeira ameaça actualmente não será a falta de meios para comunicarmos uns com os outros, mas sim a incapacidade na utilização destes novos meios de forma inteligente. Oxalá a estupidificação das sociedades através de graves falhas e excesso de facilitismos no ensino, não nos transforme numa sociedade munida novamente com uma ferramenta tão poderosa como a internet, mas sem as capacidades de a utilizar adequadamente. Oxalá resulte daqui uma segunda renascença e não a segunda onda das invasões barbaras.
Seja como fôr, não me parece que nada volte a ser como dantes.
De repente surge a maravilhosa invenção, a imprensa, que permitiu uma reprodução de textos em larga escala e a preço bastante reduzido. A grande parte do custo em termos laborais dessa reprodução fora eliminada. Com isto, disparou a publicação cientifica que cada vez mais foi roubando o espaço da ignorância.
Antigamente, quem queria divulgar uma ideia, tinha relativamente fácil acesso à imprensa e, consequentemente, a muitas pessoas. Isto permitiu não só um alargamento amplo do conhecimento, como uma grande democratização do mesmo. Entretanto, deu-se um retrocesso. Os meios audio-visuais como a televisão e a rádio aumentaram muito mais ainda o alcance do conhecimento, mas eliminaram a reciprocidade do mesmo. Qualquer pessoa pode ouvir rádio e ver televisão hoje em dia, mas o acesso à transmissão de ideias através dos mesmos é altamente controlado e limitado.
Eu diria que este estado de coisas é a maior ameaça à democracia que existe actualmente. O povo não é assim tão livre. O seu raciocínio é controlado à distância, através da manipulação da informação que é veiculada através dos meios de comunicação social, efectivamente um dos poderes que se instalaram. Quem conseguir controlar a comunicação social, controla o povo. Fá-lo, ainda por cima, de forma perversa, porque ao controlar o povo através do controle do seu pensamento, deixa permanecer a ilusão de liberdade e democracia. Sim, somos votantes livres, mas seremos mesmo pensadores livres?
Entretanto, surge um novo fenómeno que me deixa cheio de esperança. Vejo a internet como o Gutenberg 2.0. A possibilidade de qualquer um poder escrever o seu próprio blog, e sobretudo a possibilidade de se poder divulgar informação de forma viral através das redes sociais, constitui um crescente contra-poder ao poder tradicionalmente detido pelos meios de comunicação tradicionais. A internet veio reestabelecer a bidireccionalidade da comunicação. Nela, deixamos de ser meros consumidores de informação centralmente controlada, mas produtores. Passámos a ter uma riqueza enorme de conhecimentos de forma totalmente livre e democrática em projectos como o Wikipedia, que são mantidos pela comunidade. Passámos a divulgar novamente e livremente as nossas ideias através dos blogs. Passámos a poder convocar manifestações de massas através do Facebook, sem a iniciativa ou intervenção dos partidos ou do poder instalado. Claro que estes colam-se a estes fenómenos, mas já não têm a exclusividade da iniciativa.
Claro que se tudo isto existisse, mas ninguém consumisse essa informação, de nada seria útil. Ao contrário daquilo que se esperava, o consumo de televisão não terá necessariamente diminuido. Esse terá sido o fenómeno, por exemplo, no Reino Unido. No entanto, a sua importância dilui-se. O número de canais disparou com o advento das transmissões digitais, reduzindo a importância de cada um individualmente, e os salvadores do meio foram sobretudo os programas de entertenimento. No entanto, enquanto as pessoas vêem a mesma, ou ainda mais, televisão, o consumo da internet também aumentou em simultâneo. Sobretudo os mais jovens consomem os dois produtos simultaneamente, muitas vezes com complementaridade, criando a tal bidireccionalidade necessária à verdadeira democratização do conhecimento.
A verdadeira ameaça actualmente não será a falta de meios para comunicarmos uns com os outros, mas sim a incapacidade na utilização destes novos meios de forma inteligente. Oxalá a estupidificação das sociedades através de graves falhas e excesso de facilitismos no ensino, não nos transforme numa sociedade munida novamente com uma ferramenta tão poderosa como a internet, mas sem as capacidades de a utilizar adequadamente. Oxalá resulte daqui uma segunda renascença e não a segunda onda das invasões barbaras.
Seja como fôr, não me parece que nada volte a ser como dantes.